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Caatinga: O bioma brasileiro cheio de riquezas Ășnicas

  • Foto do escritor: minasbioconsultoria
    minasbioconsultoria
  • 17 de fev. de 2021
  • 5 min de leitura

É de conhecimento comum que a Caatinga possui extrema biodiversidade e importĂąncia. Mas vocĂȘ conhece, de fato, essa diversidade e sabe por que esse Bioma Ă© tĂŁo Ășnico?


O nome Caatinga significa Mata Branca em tupi-guarani, e ele foi dado devido à cor da vegetação na estação seca, na qual as plantas perdem grande parte de suas folhas para diminuir a transpiração. Esse Bioma ocupa 11% do território nacional, incluindo estados, como: Maranhão, Piauí, Cearå, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e parte de Minas Gerais.


Foto por Mel Mata Branca

Esse Bioma tem um carĂĄter especial, pois Ă© o Ășnico com todos os limites localizados em territĂłrio brasileiro, ou seja, seu patrimĂŽnio biolĂłgico Ă© exclusivo do paĂ­s. Apresenta clima semiĂĄrido, possuindo curtas estaçÔes de chuva, mas, apesar disso, nĂŁo Ă© nada improdutivo.


Ademais, por apresentar grande irregularidade climĂĄtica, com situaçÔes bem extremas, os indivĂ­duos precisaram desenvolver muitos mecanismos de sobrevivĂȘncia, o que valoriza ainda mais essa unicidade e importĂąncia ecolĂłgica.


Diversidade de flora

A flora da Caatinga Ă© extremamente diversa e especĂ­fica, apesar de possuir seres nativos de outras regiĂ”es do Brasil, sua particularidade climĂĄtica tambĂ©m garante uma boa quantidade de espĂ©cies endĂȘmicas.


Ao contrårio do que muitos podem pensar, o Bioma não é limitado somente aquela imagem do sertão, podendo ter sua fisionomia variando entre espécies arbóreas, arbustivas e espinhosas. Conheça duas plantas importantes na flora da Caatinga:

  • Umbuzeiro (Spondias tuberosa L.): Ă© uma ĂĄrvore da Caatinga conhecida como “árvore sagrada do sertĂŁo”, por ser frondosa e fornecer frutos usados no consumo e economia locais. AlĂ©m de frutĂ­fera, essa ĂĄrvore possui raĂ­zes que acumulam ĂĄgua e reservas nutritivas.


Foto por Marcelino Ribeiro
Foto por Marcelino Ribeiro











  • Quiabento (Pereskia zehntneri): Ă© uma espĂ©cie arbustiva da Caatinga com flores rosas, folhas com valor medicinal e culinĂĄrio. Muitas vezes, essa planta Ă© usada para fazer cercas vivas no sertĂŁo, por conta de grandes espinhos espalhados em sua superfĂ­cie.

Foto por Dinho Silva

Mecanismos adaptativos da vegetação

Para entrar em harmonia com o meio de clima semiĂĄrido e garantir a sobrevivĂȘncia, as plantas da Caatinga precisaram desenvolver estratĂ©gias de adaptação, incluindo caracterĂ­sticas estruturais e funcionais especĂ­ficas. Essas tĂ©cnicas sĂŁo importantes, pois mantĂȘm os indivĂ­duos “adormecidos” em perĂ­odos secos, a fim de que possam explodir em formas e cores quando a estação chuvosa chega. SĂŁo elas:

  • Redução da ĂĄrea foliar: menor taxa de transpiração;

  • CaducifĂłlias: queda de folhas para diminuir a perda de ĂĄgua por transpiração;

  • EspinescĂȘncia: folhas modificadas em espinhos para economizar ĂĄgua (comum em cactos);

  • SuculĂȘncia: tecidos que armazenam ĂĄgua;

  • Presença de ceras: diminui a perda de ĂĄgua, evita a entrada de patĂłgenos e reflete luz;

  • EstĂŽmatos protegidos, escondidos ou reduzidos: maior controle sobre a abertura e o fechamento evita a perda de ĂĄgua e limita a absorção de poluentes;

  • RaĂ­zes longas: para absorver ĂĄgua do solo e raĂ­zes com reservas nutritivas.


Representação de espinescĂȘncia no Xique-xique – Foto por Natureza Bela

Diversidade de fauna

A diversidade de animais Ă© enorme, envolvendo inĂșmeras espĂ©cies endĂȘmicas, ou seja, exclusivas dessa regiĂŁo. O estudo desses seres Ă© crucial para o entendimento das particularidades e dos processos ecolĂłgicos que ocorrem nesse local.


Os animais, assim como as plantas, possuem estratégias de adaptação às estaçÔes secas, que estão ligadas, em grande parte, a comportamentos migratórios. São exemplos de fauna: Tamanduå-mirim (Tamandua tetradactyla), Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), Onça-parda ( Puma concolor), Gato-do-mato (Leopardus tigrinus), entre outras.


Entretanto, a situação de animais em risco de extinção é crítica. Acredita-se, até, que alguns deixaram de existir antes mesmo de serem conhecidos. Veja, a seguir, dois exemplos de animais em estado crítico:

  • Ararinha-azul: (Cyanopsitta spixii): espĂ©cie exclusiva da Caatinga brasileira, considerada uma das espĂ©cies de aves mais ameaçadas do mundo, que teve sua população dizimada pela exploração humana. Seu Ășltimo indivĂ­duo visto na natureza foi por volta de 2000, e, atualmente, os poucos exemplares restantes vĂȘm sendo usados para reprodução em cativeiro.

Foto por Patrick Pleul
  • GuigĂł-da-Caatinga (Callicebus barbarabrownae): Ă© uma espĂ©cie de primata, raro e endĂȘmico da Caatinga, classificado com um nĂ­vel crĂ­tico de perigo de extinção, motivado pela perda e fragmentação de habitat.

Foto por Antonio Estrela

Conservação da Caatinga e de suas riquezas

A Caatinga é um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta. Ela possui grande årea de degradação, advinda da exploração antrópica de anos, além da degradação natural por fatores abióticos, como o clima. Por esse motivo, se tornou tão necessårio pensar na conservação desses ambientes e de suas riquezas.


O Bioma jĂĄ foi chamado de “Verdadeira farmĂĄcia viva” pela Embrapa, por possuir vĂĄrias plantas com potenciais medicinais, usadas como medicamentos caseiros e fitoterĂĄpicos. Sua riqueza tambĂ©m permite a produção de fibras de palha, cerĂąmicas, e bordados, exaltando as belas espĂ©cies locais. AlĂ©m disso, o comĂ©rcio local faz Ăłtimo proveito de suas raĂ­zes tuberosas e frutos deliciosos.


São tantos os valores agregados pela Caatinga ao país, e, a fim de que ela seja valorizada devidamente, este tema precisaria ser mais conhecido e estudado. A conservação de sua årea e de suas espécies permite um saber mais aprofundado dos ecossistemas, assim como um maior aprendizado da vegetação no geral, além de preservar o valor inerente a ela para a população regional.


O Recaatingamento é um projeto interessante, o qual ajuda na conservação do bioma. Ele estå localizado em Juazeiro e visa o respeito do povo e das terras da região. Soma-se a isso o objetivo de unir a própria população para fazer transformaçÔes socioambientais e inverter a desertificação da Caatinga, por meio do uso sustentåvel de seus recursos naturais.


Foto por Rodrigo Viana

Gosta de estudar os Biomas brasileiros? EntĂŁo leia os outros textos do Blog sobre esse assunto! Frutas do Cerrado e Fisionomias do Cerrado, O efeito do fogo nos Biomas brasileiros, A AmazĂŽnia Ă© mesmo o pulmĂŁo do mundo?.



REFERÊNCIAS

BELARMINO, Maria. Mecanismos adaptativos da vegetação da caatinga. In: BELARMINO, Maria. AdaptaçÔes vegetacionais da Caatinga Ă  seca: ConcepçÔes dos alunos de uma escola pĂșblica do municĂ­pio de DamiĂŁo-PB. 2017. TCC (CiĂȘncias BiolĂłgicas) - Universidade Federal de Campina Grande, [S. l.], 2017. DisponĂ­vel em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/bitstream/riufcg/7337/1/MARIA%20RIZONEIDE%20ARA%C3%9AJO%20BELARMINO%20-%20TCC%20BIOLOGIA%202017.pdf. Acesso em: 24 nov. 2020.

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ECOLOGIA. Florestas. [S. l.]: SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia, 2012. 86 p. v. 4. Disponível em: https://speco.pt/images/Artigos_Revista_Ecologia/revistaecologia_4.pdf#page=15. Acesso em: 25 nov. 2020.

Fundação Joaquim Nabuco. Saiba quais são as características da Caatinga. [S. l.], 15 mar. 2019. Disponível em: https://www.fundaj.gov.br/index.php/conselho-nacional-da-reserva-da-biosfera-da-caatinga/9193-saiba-quais-sao-as-caracteristicas-da-caatinga#:~:text=H%C3%A1%20forte%20presen%C3%A7a%20de%20arbustos,perda%20de%20%C3%A1gua%20por%20evapora%C3%A7%C3%A3o.

RIBEIRO, Marcelino. Cientistas desenvolvem as primeiras cultivares de umbuzeiro. [S. l.], 22 out. 2019. DisponĂ­vel em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/47436939/cientistas-desenvolvem-as-primeiras-cultivares-de-umbuzeiro. Acesso em: 24 nov. 2020.

DRUMOND, Marcos et al. Caatinga: um bioma exclusivamente brasileiro... e o mais frĂĄgil. IHUOnline, [s. l.], ed. 389, 2012. DisponĂ­vel em: http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao389.pdf. Acesso em: 24 nov. 2020.

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio. Ararinhas-azuis de volta à Caatinga. [S. l.], 19 fev. 2020. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/10918-ararinhas-azuis-de-volta-a-caatinga#:~:text=Descoberta%20no%20in%C3%ADcio%20do%20s%C3%A9culo,desapareceu%20em%20outubro%20de%202000

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio. Avaliação do Risco de Extinção de Callicebus barbarabrownae Hershkovitz, 1991 no Brasil. [S. l.], 28 out. 2015. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/8035-mamiferos-callicebus-barbarabrownae-guigo-da-caatinga.

IRPAA – INSTITUTO REGIONAL DA PEQUENA AGROPECUÁRIA APROPRIADA (Bahia). Recaatingamento. [S. l.], 18 maio 2010. Disponível em: http://www.recaatingamento.org.br/quem-somos/. Acesso em: 25 nov. 2020.



Sobre a autora: Marcela Andressa Sponchiado, graduanda em CiĂȘncias BiolĂłgicas/Bacharelado – UFU. Apaixonada por plantas e animais.

Contato: sponchiadoma.2000@gmail.com




 
 
 
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