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Tubarões: humanos entram no cardápio das espécies presentes em Recife (PE)?


Os tubarões são animais altamente adaptados e especializados ao ambiente marinho. Eles possuem uma vasta gama de espécies que ocupam diferentes nichos tróficos. Além disso, são conhecidos como grandes predadores devido a inúmeras características que os transformam em máquinas fatais dentro da água. Entre estas estão a morfologia hidrodinâmica somada aos sentidos aguçados que dão ao animal agilidade e velocidade na caça.


Embora os tubarões possuam a fama de sanguinários e cruéis, o ser humano não faz parte do seu cardápio. Logo, não é correto afirmar que o homem faz parte da dieta do animal, visto que nela incluem-se mamíferos marinhos, crustáceos, cefalópodes, entre outros seres presentes no habitat natural desses seres. A alimentação desse predador pode variar ao longo de suas vidas, dependendo, então, do estágio de desenvolvimento e das mudanças no ambiente. Portanto, não atacam o homem para comer, mas sim, se defender ou até mesmo por confundir com outro ser presente na sua dieta.


  • Mas de onde veio a informação de que o tubarão alimenta-se de humanos?


A fama de que tubarões caçam pessoas se deve, em grande parte, a eventos isolados e infrequentes, como os ataques de tubarão que ocorrem em algumas partes do mundo. Embora esses ataques sejam extremamente raros em comparação com o número de interações entre humanos e tubarões, eles tendem a receber uma ampla cobertura da mídia, o que pode criar uma percepção exagerada e sensacionalista.


Entretanto, no Brasil, a cidade de Recife (PE) vem colocando em questão se os seres humanos continuam não sendo parte do cardápio dos tubarões, já que na região há um número relevante de ataques. Desde 1992, já foram registrados 77 ataques de acordo com o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e isso vem gerando medo nos banhistas.


  • Mas por que o mar não está para humanos em Recife?


De acordo com análises do Cemit, a explicação para a área registrar tantos casos está na ação antrópica negativa no meio ambiente que afeta o habitat desses animais. O surgimento de tubarões nas áreas utilizadas por banhistas significa a perda de habitats naturais dos mesmos, o que promove o deslocamento da população desses animais, reprojetando suas rotas, para partes do litoral utilizadas pelos banhistas. Isso é intensificado pela construção de empreendimentos na região costeira de Pernambuco que viabiliza ainda mais a degradação do habitat natural das espécies de tubarão presentes nesses locais.


Um destes locais que sofreram o impacto do homem é os manguezais os quais passaram por aterramento, ou seja, sofreram supressão. Eles possuem grande importância para os tubarões pois funcionam como berçário, local de forrageio e abrigo. Logo, os excelentes predadores aquáticos os utilizam para seu desenvolvimento baseado na alimentação e reprodução da espécie.


Outro potencializador dos ataques foram as operações realizadas nas últimas quatro décadas na região de Suape, que possui um conjunto de estuários. Estes locais são conhecidos como berçários da vida marinha, servindo também para o sustento de inúmeros pescadores. Percebe-se, então, que o prejuízo à reserva pesqueira do Litoral afeta negativamente na dieta do tubarão que passará a buscar alimento em outros locais. E assim, se alimentar do que está disponível nessas novas áreas.


Outrossim, a topografia do litoral pernambucano ajuda a explicar os ataques, porque há um canal com profundidade adequada, para rota de tubarões, que acompanha a costa e facilita a chegada dos animais vindos do mar aberto. Assim, com a maré alta, os tubarões têm facilidade em se deslocar para mais próximos das praias.


Além disso, há também elevada poluição orgânica do rio Jaboatão - que atiça a curiosidade do animal fazendo-o perseguir os objetos lançados inadequadamente na água e adentrarem a área que os banhistas frequentam, já que o lixo muitas vezes vai para estes locais. A turbidez da água somadas às correntes de retorno, também são fatores positivos para os tubarões frequentarem a área também utilizada pelos banhistas.


Em suma, o desequilíbrio causado pelo ser humano é a causa principal da alta incidência de encontros com tubarões em Recife. Isso, somados à topografia do litoral pernambucano e aos ótimos instintos de predador dos tubarões, deixam os banhistas vulneráveis à ataques, já que animal irá experimentar se aquele ser interessa ou não para ele.


Portanto, humanos não entram na dieta de tubarões, mas a perda de habitat e de alimento faz com que ataques sejam ocorrentes. Para isso, medidas mitigatórias deveriam ser implantadas, como a recuperação de estuários e manguezais, além de implantação de políticas de conscientização acerca da biologia e comportamento dos tubarões, visando a redução de incidentes e a preservação do habitat natural deles, bem como da sua existência.


Vale lembrar também que o mar não é do ser humano, mas sim das espécies marinhas que vivem nele… Logo, quem está invadindo o habitat natural dos tubarões são os seres humanos e, assim, a palavra respeito deve ser colocada em prática também. A conscientização que o homem não faz parte da dieta do tubarão, mas afeta o ambiente que ele vive explica e ajuda a mitigar os acidentes envolvendo ambos.




REFERÊNCIAS:




Heupel, M.R. et al. (2005). "Spatial and temporal patterns of juvenile shark distribution in Moreton Bay, Queensland, Australia." Marine and Freshwater Research, 56(4), 371-380.


Nagelkerken, I. et al. (2008). "How important are mangroves and seagrass beds for coral-reef fish? The nursery hypothesis tested on an island scale." Marine Ecology Progress Series, 358, 215-223.


Cavanaugh, K.C. et al. (2014). "Socioeconomic value of small-scale fisheries in the Caribbean." PLoS ONE, 9(12), e107000.


Cinner, J.E. et al. (2006). "Conservation and community benefits from traditional coral reef management at Ahus Island, Papua New Guinea." Conservation Biology, 20(6), 198-207.


Folha de Pernambuco. "Por que há tantos incidentes com tubarão em Pernambuco? O que pode ser?" Disponível em: https://www.folhape.com.br/noticias/por-que-ha-tantos-incidentes-com-tubarao-em-pernambuco-o-que-pode-ser/260822/. Acesso em: 16 de Maio de 2023.


Valor Econômico. "Afinal, por que há tantos ataques de tubarão no Recife? Entenda." Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/03/07/afinal-por-que-ha-tantos-ataques-de-tubarao-no-recife-entenda.ghtml. Acesso em: 16 de maio de 2023.





 

Sobre o autor: Bruna Davi Alves, graduanda de Ciências Biológicas em Bacharel, na Universidade Federal de Uberlândia. É apaixonada pela ornitologia e está descobrindo novos amores na biologia marinha.







 

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