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Árvores podem andar?

  • Foto do escritor: minasbioconsultoria
    minasbioconsultoria
  • há 15 minutos
  • 3 min de leitura

Por séculos imaginamos as árvores como símbolos de permanência. Suas raízes afundam no solo, suas copas se erguem ao céu, imóveis, enquanto o mundo ao redor se transforma.

Mas as árvores, na verdade, têm seus próprios caminhos de movimento. Embora seus troncos permaneçam onde estão, suas sementes viajam. Levadas pelo vento, pela água ou por animais, chegam a lugares distantes, onde germinam e crescem. É como se, ao longo das gerações, a floresta inteira se movesse em busca de novas possibilidades, lentamente moldando a paisagem.


Pesquisas mostram que algumas espécies de árvores estão se deslocando cada vez mais rápido em resposta às mudanças climáticas. Nas florestas da América do Norte, por exemplo, árvores como os carvalhos e bordos avançam em direção ao norte e oeste, acompanhando as variações de temperatura e os novos padrões de chuva causados pelo aquecimento global. Essas espécies buscam locais com condições climáticas mais favoráveis, onde suas sementes germinam mais facilmente e as mudas têm maior probabilidade de sobreviver.


Um estudo publicado na revista Science Advances analisou dados de mais de 86 espécies de árvores e descobriu que a maioria delas está se deslocando para o norte a uma taxa média de 13,1 km por década e para o oeste a uma taxa de 20,7 km por década [1]. Esse deslocamento é mais acelerado em árvores jovens, que apresentam maior plasticidade e capacidade de adaptação. Essa migração em massa das árvores em resposta às mudanças climáticas pode ter impactos significativos na composição e estrutura das florestas, na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos. É imprescindível que continuemos monitorando esses deslocamentos e implementando estratégias de conservação para garantir a resiliência das florestas diante do aquecimento global.


É uma jornada silenciosa e quase imperceptível, demonstrando que mesmo aquilo que parece eterno se transforma com o passar do tempo. Contudo, essa transformação não ocorre no indivíduo, mas em um deslocamento geracional que se desenrola ao longo dos anos. Mas e se eu lhe dissesse que há uma árvore que desafia essa norma? Uma árvore que, de maneira pujante, realmente se move pela floresta?


Nas profundezas da Amazônia peruana, onde a umidade permeia o ar e a luz do sol se infiltra timidamente pelas copas densas, vive uma palmeira que redefine o conceito de estabilidade no reino das plantas. A Socratea exorrhiza, conhecida como palmeira andante, é uma criatura única [2]. Em um solo úmido, instável e disputado, ela não se contenta em permanecer estática.


Suas raízes-escoras, longas e arqueadas, não apenas sustentam seu tronco elevado, mas também conferem a ela um tipo de deslocamento lento, mas resoluto, permitindo-lhe buscar melhores condições de luz e nutrientes. Estudos conduzidos por John H. Bodley e Foley C. Benson, publicados na Biotropica em 1980, foram pioneiros em documentar esse fenômeno [3]. Eles observaram que, ao crescer em terrenos saturados de água ou em áreas onde a luz solar é frequentemente bloqueada por árvores maiores, a palmeira ativa um mecanismo singular.


Novas raízes emergem no lado mais favorável — onde o solo é mais estável ou a claridade mais abundante — enquanto as raízes antigas apodrecem e se desfazem. Esse ciclo contínuo de regeneração e decadência permite que o tronco inteiro seja deslocado em uma espécie de “caminhada” vegetal ao longo do tempo.


Essa capacidade de movimento, pouco perceptível no curto prazo, permite que a palmeira percorra até vários metros, uma distância notável para um organismo vegetal. Essa adaptação evolutiva é uma resposta ao ambiente dinâmico da floresta tropical, onde impera quem melhor se adapta às suas constantes transformações.







Referências


[1] FEI, S.; DESPREZ, J.; POTTER, K. M.; JOUSSEIN, A.; et al. Divergence of species responses to climate change. Science Advances, v. 3, n. 5, e1603055, 2017.


[2] DRANSFIELD, J.; UHL, N. W.; ASMUSSEN, C. B.; BAKER, W. J. Genera Palmarum: The Evolution and Classification of Palms. Kew: Royal Botanic Gardens, 2008.


[3] BODLEY, J. H.; BENSON, F. C. Walking palms and the movement of trees. Biotropica, v. 12, n. 1, p. 67–71, 1980.





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Sobre o autor: Marcos Zecchini é graduando em Ciências Biológicas (Bacharelado – UFU) e tem um fascínio particular pela ecologia comportamental. Atualmente sua linha de pesquisa foca na percepção de cores em aranhas saltadoras, tentando decifrar alguns dos mistérios da visão nesses pequenos predadores.



 
 
 

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