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Conheça Wangari Maathai e Sua Luta em Prol do Meio Ambiente e dos Direitos das Mulheres

Atualizado: 18 de out. de 2023


A primeira mulher africana a receber um Prêmio Nobel da Paz, Wangari Muta Maathai, nasceu no dia 01 de abril de 1940, em uma vila rural de Nyeri, centro da atual República do Quênia, num período em que o país estava sob domínio britânico. Em tal contexto, seu pai trabalhava como mecânico e motorista, e sua mãe era agricultora, podendo ser considerada uma das responsáveis por cativar na filha certa consciência ambiental, desde tenra idade, ao explicar que as árvores são tesouros proporcionadores de frutos, purificadores do ar e abrigo para os animais.


Após sugestão de seu irmão mais velho, Wangari, ainda criança, teve permissão para ir à escola – o que não era incentivado em seu povoado na época, visto que as meninas, consideradas propriedades dos pais, deveriam ajudar suas mães em tarefas domésticas e sair de casa apenas para se casar, vivendo, posteriormente, em função do marido. Ao entrar na escola, logo alcançou o nível das crianças de sua idade e, posteriormente, foi estudar em um colégio interno, onde as aulas eram dadas em inglês – idioma que teve de aprender. Já no ensino médio, Wangari mostrou-se uma excelente aluna, o que lhe rendeu a oportunidade de prosseguir sua formação superior nos Estados Unidos, concluindo um mestrado em Biologia na Universidade de Pittsburgh.


Quando retornou ao Quênia, obteve doutorado em anatomia veterinária, tornando-se a primeira mulher no leste e centro-africano com tal título e, também, a primeira a ocupar a diretoria do departamento de medicina veterinária da Universidade de Nairóbi. Nesse retorno, ficou surpresa com os altos níveis de desmatamento em seu país (promovidas, sobretudo, por práticas agrícolas) e a consequente escassez de recursos naturais no Quênia – principalmente de água e alimentos.



Wangari Waathai. Fonte: Revista Galileu

  • ‘’Green Belt Movement” - ou Movimento Cinturão Verde


Ao longo de sua formação acadêmica e de visitas a povoados regionais, Wangari pôde relacionar os níveis de desmatamento do Quênia aos índices de pobreza. E, ao pensar muito sobre, concluiu que a única saída viável seria o plantio de árvores – criando, em 1977, o Movimento Cinturão Verde, cujos objetivos eram: proteger os habitats da fauna nativa, recuperar áreas degradadas, fazer com que a água voltasse aos riachos e, ainda, estimular a emancipação das mulheres de seu país.


Para que o plantio de milhares de árvores ocorresse, a bióloga reuniu várias mulheres, as quais, além de conseguirem que suas ações se tornassem um trabalho remunerado, começaram a ser ambientalmente educadas, entendendo a relevância do reflorestamento e a importância das árvores.



Mulheres do Cinturão Verde. Fonte: ONU News

Nesse sentido, Wangari almejava que as mulheres fossem as principais encarregadas a fim de que, desse modo, fossem mais valorizadas e tivessem mais visibilidade rumo a reivindicação de seus direitos, pois, afinal, eram tratadas como seres inferiores e colocadas em posição de submissão aos homens. Entretanto, os progressos do Movimento desagradaram não apenas o então marido de Wangari (o qual pedira-lhe o divórcio), mas também o então presidente do Quênia, Daniel Toroitich arap Moi - contrário aos direitos reivindicados pelas mulheres e às ações promovidas pelo Movimento Cinturão Verde.


Apesar de ter sido diversas vezes presa por contrariar os ideais do governo de Daniel arap Moi, Wangari continuou lutando pelo meio ambiente e pelo direito das mulheres e, em 1992, mais de 10 milhões de árvores já haviam sido plantadas, por meio do trabalho de 80 mil mulheres. Nesse tempo, sem respeito algum pelo trabalho das mulheres no Parque de Nairóbi, o presidente Daniel arap Moi planejou desmatar a área para construir um arranha-céus. Entretanto, as mulheres resistiram plantando ainda mais árvores – o que, além de mais uma prisão, rendeu a Wangari acuações de traição ao Governo.


Porém, em tal contexto, o movimento iniciado pela bióloga já era conhecido além das fronteiras do Quênia, gerando uma pressão internacional para que ela fosse solta. E, felizmente, os planos de construção do arranha-céus não prosseguiram.


  • O Prêmio Nobel da Paz


Em 2002, após duas décadas, o governo Daniel Moi chegara ao fim. E, no governo sucessor, Wangari conseguiu trabalhar em seus projetos rumo à afirmação da democracia, criando o Mazingira (um partido político ambientalista); ela também conseguiu um cargo do Parlamento do Quênia (com 98% dos votos), fazendo com que fosse indicada, em 2003, a Ministra do Meio Ambiente de seu país.


Graças à sua trajetória, em 2004, Wangari recebeu um Prêmio Nobel da Paz, devido às suas contribuições ao desenvolvimento sustentável, democracia e paz: o primeiro a ser recebido por uma mulher africana, o que ela celebrou promovendo o cultivo de mais árvores. Cinco anos após o Prêmio, a ativista se tornou Mensageira da Paz nas Nações Unidas, a convite do então Secretário-Geral Ban Ki-moon.


Nessa época, também participou do Conselho Diretor sobre Desarmamento, fez campanha dos embaixadores cidadãos e participou ativamente das iniciativas do Pnuma, cuja sede se situa em Nairóbi. E, antes de seu falecimento, em 2011, fazia parte do Conselho Diretor sobre as Metas do Milênio, uma agenda rumo ao combate dos males sociais até 2015. Sua história e seus trabalhos em prol do meio ambiente e das mulheres lançaram luz a vários outros projetos ao redor do mundo.



Wangari Maathai em 2004, ao receber o Nobel da Paz. Fonte: Revista Galileu

"As atividades que devastam o ambiente e as sociedades continuam inabaláveis. Hoje enfrentamos um desafio que exige uma mudança no nosso pensamento, para que a humanidade deixe de ameaçar o seu sistema de suporte à vida. Somos chamados a ajudar a Terra a curar as suas feridas e, no processo, a curar as nossas próprias – na verdade, a abraçar toda a criação em toda a sua diversidade, beleza e maravilha. Isto acontecerá se percebermos a necessidade de reavivar o nosso sentimento de pertencimento a uma família maior de vida, com a qual partilhamos o nosso processo evolutivo." (Maathai, 2004).




REFERÊNCIAS:


GALILEU. Quem foi Wangari Muta Maathai, primeira mulher africana a receber o Nobel da Paz. 2019. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/09/quem-foi-wangari-muta-maathai-primeira-mulher-africana-receber-o-nobel-da-paz.html. Acesso em: 25 set. 2023.


G1. Daniel Arap Moi, que governou o Quênia por duas décadas, morre aos 95 anos. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/02/04/daniel-arap-moi-que-governou-o-quenia-por-duas-decadas-morre-aos-95-anos.ghtml. Acesso em: 25 set. 2023.


UFRGS. Wangari Muta Maathai (1940-2011). Disponível em: https://www.ufrgs.br/africanas/wangari-muta-maathai-1940-2011/. Acesso em: 25 set. 2023.


NOBEL PRIZE. Nobel Lecture by Wangari Maathai. 2004. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2004/maathai/lecture/. Acesso em: 25 set. 2023.


ONU NEWS. Morre Wangari Maathai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz e ambientalista africana. 2011. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2011/09/1386791. Acesso em: 25 set. 2023.





 

Sobre a autora: Bruna Luiza Carvalho Machado, técnica em Meio Ambiente pelo Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) e graduanda em Ciências Biológicas na Universidade Federal de Uberlândia (UFU); grande entusiasta das questões ambientais, sobretudo gestão ambiental e ecologia, com uma especial inclinação à micologia.


Contato: bruna.minasbio@gmail.com




 

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