Lagartas de Lepidoptera: Agentes Ecológicos na Manutenção dos Ecossistemas
- minasbioconsultoria
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Quem nunca parou para observar uma borboleta pousando em uma flor ou uma mariposa rondando uma lâmpada durante a noite? Esses insetos encantam pela beleza e diversidade, mas poucos conhecem a complexidade que envolve o grupo ao qual pertencem: a ordem Lepidoptera, que reúne cerca de 180 mil espécies conhecidas entre borboletas e mariposas (Scoble, 1995).
O nome “Lepidoptera” vem do grego lepis (escama) e pteron (asa), uma referência às microscópicas escamas que recobrem suas asas e dão origem a padrões e cores deslumbrantes. O ciclo de vida desse grupo é dividido em quatro estágios: ovo, lagarta (larva), pupa (crisálida) e adulto (borboleta ou mariposa).
Desde o momento em que eclodem do ovo, esses insetos passam por um processo biológico extraordinário: a metamorfose completa. As lagartas (ou larvas) têm como prioridade: comer e crescer, elas apresentam um aparelho bucal mastigador bem desenvolvido, adaptado à herbivoria, e podem consumir grandes quantidades de biomassa vegetal. Sua dieta é composta principalmente de folhas, mas há espécies especializadas em flores, frutos e até detritos orgânicos.
E após alcançarem um tamanho ideal, entram na fase de pupa, momento em que se envolvem em um casulo (crisálida), ali dentro, o corpo da lagarta literalmente se desfaz e se reorganiza: tecidos larvais são degradados e substituídos por estruturas adultas, como asas, antenas e aparelho reprodutor.
Além de sua importância biológica, as lagartas desempenham papéis ecológicos essenciais. São consumidoras primárias, ajudando a controlar o crescimento da vegetação e influenciando a composição de diversas comunidades de plantas. Também são presas fundamentais para uma variedade de animais, como aves, anfíbios, lagartos e outros insetos, participando diretamente das cadeias alimentares e mantendo o equilíbrio dos ecossistemas (Price et al., 2011).
Mas nem todas as lagartas são inofensivas. Diversas espécies desenvolveram estratégias químicas e comportamentais para se proteger de predadores. Um exemplo conhecido no Brasil é a taturana ou lagarta-de-fogo (Lonomia obliqua), conhecida por ser uma das mais venenosas do mundo. Suas cerdas urticantes liberam toxinas que podem causar hemorragias graves e até levar à morte. Outras espécies optam por defesas mais sutis, como mimetismo, camuflagem e coloração críptica, algumas imitam galhos, folhas ou até fezes de aves para passarem despercebidas.
Essas estratégias revelam o quanto a vida das lagartas é resultado de milhões de anos de adaptação. Mais do que simples “fases intermediárias”, elas são agentes ativos na manutenção dos ecossistemas, transformando matéria vegetal em energia, alimentando outras espécies e participando de complexas redes tróficas. Compreender o papel ecológico das lagartas é compreender o funcionamento da natureza em múltiplas escalas: do metabolismo de uma folha mastigada ao equilíbrio de um ecossistema inteiro.
Referências para a construção do texto:
Arocha-Piñango, C. L.; Guerrero, B. (2001). Lonomia obliqua caterpillar envenomation: clinical and experimental aspects. Haemostasis, 31(3–6), 288–293.
Dyer, L. A.; Forister, M. L.; et al. (2012). Feeding by lepidopteran larvae is dangerous: a review of caterpillars' chemical, physiological, morphological and behavioral defenses. Ecology Letters, 15(3), 310–325.
Okude, G.; Shimizu, K.; et al. (2022). Molecular mechanisms underlying metamorphosis in the Lepidoptera. Frontiers in Endocrinology, 13, 872134.
Price, P. W.; et al. (2011). Ecological aspects of insect herbivory: Implications for ecosystems and conservation. Insect Science, 18(1), 3–19.
Scoble, M. J. (1995). The Lepidoptera: Form, Function and Diversity. Oxford University Press.
Truman, J. W. (2019). The evolution of insect metamorphosis. Current Biology, 29(21), R1252–R1268.
Wagner, D. L. (2021). A window to the world of global insect declines: Moth and Lepidoptera roles in food webs. Proceedings of the National Academy of Sciences, 118(2), e2002549117.

Autor: Maycon Reis, graduando em Ciências Biológicas - Licenciatura - UFU, amante da arte, biologia, educação e entomologia.
Contato: mayconreis.minasbio@gmail.com
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