Ao longo de vários séculos, diversos mitos foram criados acerca dos quirópteros (morcegos), baseados, sobretudo, nas espécies de morcegos hematófagos – representados em muitas artes gráficas e filmes associados a vampiros, em decorações de festas de halloween e afins, os quais moldaram o imaginário coletivo e inspiraram mitos em relação a esses animais.
Em tal contexto, uma importante informação a ser difundida para combater o estigma envolvendo o grupo dos quirópteros é: de cerca de 1.200 espécies de quirópteros ao redor de todo o mundo, apenas três são hematófagas (alimentam-se de sangue). Essas três espécies, popularmente conhecidas como morcegos-vampiros, são: morcego-vampiro-comum (Desmodus rotundus), morcego-vampiro-de-asas-brancas (Diaemus youngi) e morcego-vampiro-de-pernas-peludas (Diphylla ecaudata), todas ocorrem no Brasil.
As presas naturais mais comuns dos morcegos hematófagos são aves, cavalos, porcos e gado. Nesse sentido, grande parte dos relatos de morcegos ingerindo sangue humano provém de regiões rurais, e não são um tipo de ataque comum, visto que os seres humanos não são suas presas principais, e esse hábito é favorecido quando as presas naturais são mais escassas no ambiente.
Dentre as três espécies de morcegos-vampiros mencionadas, o vírus da raiva e demais zoonoses é transmitido principalmente pelo Desmodus rotundus, tornando-o alvo da vigilância sanitária, de monitoramento e controle constante. Tal espécie pode ser encontrada em todo território nacional, em ambientes e paisagens florestais, assim como em regiões desérticas, abrigando-se em ocos de árvores, cavernas, bueiros, minas abandonadas e até mesmo construções civis.
Cabe ressaltar que os morcegos, ao ingerir o sangue da presa, não a mata, não suga todo o seu sangue e nem a machuca de forma muito significativa. Pelo contrário, são feitas aberturas sutis com os dentes incisivos e eles lambem o sangue pelo tempo que precisarem, liberando uma substância anticoagulante e anestésica.
Apesar da relevante e justificável preocupação tangível aos morcegos-vampiros transmissores de zoonoses, a maior parte das espécies que constituem os quirópteros no Brasil, cerca de 180, é frugívora (alimenta-se de frutos) e insetívora (alimenta-se de insetos), desempenhando um papel ecológico muito importante, pois contribuem com a dispersão de sementes; o equilíbrio populacional de artrópodes, principalmente Hexápodas, visto que são predadores naturais deles; polinização de espécies vegetais etc.
Em síntese, pode-se afirmar que o grupo dos quirópteros é estigmatizado pela falta de informação pautada em um grupo muito pequeno de espécies. Esses grupos, em contato com humanos, podem transmitir doenças (caso estiverem de fato contaminados) que outros animais, incluindo os domésticos, como cachorros e gatos, também podem.
Portanto, a fim de combater o preconceito e os mitos em torno dos morcegos, devemos estudar e tratar a raiz da dispersão de zoonoses (as quais estão relacionadas não somente a grupos isolados de espécies, mas a algum desequilíbrio ambiental) e dispersar informações, por meio da Educação Ambiental.
REFERÊNCIAS:
G1. Brasil tem 178 espécies de morcegos e só três se alimentam de sangue. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/especiais/noticia/brasil-tem-178-especies-de-morcegos-e-so-tres-se-alimentam-de-sangue.ghtml. Acesso em: 24 out. 2023.
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Onde habita o morcego vampiro. Disponível em: https://comunica.ufu.br/noticias/2022/02/onde-habita-o-morcego-vampiro. Acesso em: 24 out. 2023.
FREITAS, M. C. O.; GUIMARÃES, J. T. A relação dos morcegos com a cultura popular e sua importância para a manutenção do equilíbrio ecológico. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), [S.l.], v. 16, n. 2, p. 46-61, ago. 2021. DOI: https://doi.org/10.34024/revbea.2021.v16.10619. Acesso em: 24 out. 2023.
Sobre a autora: Bruna Luiza Carvalho Machado, técnica em Meio Ambiente pelo Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) e graduanda em Ciências Biológicas na Universidade Federal de Uberlândia (UFU); grande entusiasta das questões ambientais, sobretudo gestão ambiental e ecologia, com uma especial inclinação à micologia.
Contato: bruna.minasbio@gmail.com
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