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Racismo Ambiental e seus impactos na sociedade

Atualizado: 25 de mai. de 2023

Criado em 1982 nos Estados Unidos, o termo "racismo ambiental” caracteriza a forma como a degradação ambiental contribui para a manutenção dos processos discriminatórios sofridos por comunidades periféricas, que em sua maioria são compostas por minorias étnicas. Isso quer dizer que, historicamente falando, pode-se afirmar que efeitos da destruição do meio ambiente, como a contaminação de rios, enchentes, deslizamentos de terra, dentre outros, não atingem toda a população da mesma forma, pois as parcelas mais marginalizadas da sociedade sempre acabam sendo as mais afetadas por tais situações.


Fonte: INEA Rio de Janeiro
  • Um breve histórico

Como dito anteriormente, o termo “racismo ambiental” surgiu em 1982 nos Estados Unidos, cunhado por Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., então químico, reverendo e ativista afro-americano de direitos civis. A criação do conceito se deu num contexto onde manifestações e protestos foram organizados na cidade de Afton (Condado de Warren na Carolina do Norte), contra a instalação de um aterro para o descarte de resíduos de policlorobifenilas (PCB), compostos químico que pode causar diversas doenças e complicações de saúde ao serem inalados ou absorvidos pela pele. Dentre os aproximadamente 16.000 habitantes de Afton na época, 60% eram afro-americanos que, em sua maioria, viviam abaixo da linha de pobreza. Em suas pesquisa sobre a exposição de populações negras a resíduos tóxicos, Chavis define racismo ambiental como:


“(...) discriminação racial na elaboração de políticas ambientais, na aplicação de regulamentos e leis, e no direcionamento deliberado de comunidades negras para instalações de lixo tóxico, com risco de vida em nossas comunidades e a exclusão de negros da liderança dos movimentos ecológicos.”

Fonte: Ricky Stilley

Embora tenha surgido no contexto dos movimentos negros dos EUA, o racismo ambiental foi bastante ampliando desde sua origem até os dias de hoje. Em 1994, em sua obra “The Legacy of American Apartheid and Environmental Racism” o sociólogo Robert D. Bullard, também conhecido por cunhar o termo justiça ambiental, definindo-o como:


“(...) qualquer política, prática ou diretiva que afete ou prejudique de maneira diferenciada (intencional ou não) indivíduos, grupos ou comunidades com base em raça ou cor.”


Fonte: Steve McCaw / NIEHS

Além disso, o racismo ambiental pode ser também levado em consideração em escala mundial, principalmente no caso das desigualdades nas relações ecológicas entre o norte e o sul global resultantes da colonização, da globalização e do neoliberalismo. Tais efeitos são bastante visíveis na América Latina, onde o histórico de desigualdade social e discriminações etnico-raciais agem em conjunto à exploração de recursos naturais e força de trabalho infringindo aos países latino-americanos a nível internacional na manutenção das situações de injustiça ambiental.

  • Desdobramentos contemporâneos

Nos dias atuais, o racismo ambiental pode ser visto em diversas situações do cotidiano social. As altas taxas de descarte de lixo eletrônico e despejo de poluentes gerados pelo norte global em países do sul, onde as leis ambientais e de segurança são mais frouxas, exemplificam bem tal situação num panorama internacional. Na América Latina, o histórico de desigualdade social e discriminações etnico-raciais agem em conjunto à exploração de recursos naturais e força de trabalho infringindo aos países latino-americanos a nível internacional na manutenção das situações de injustiça ambiental.


Fonte: Observatório de Conflitos de Mineração na América Latina (OCMAL)

No contexto brasileiro, relações sociais históricas também têm interferência direta sobre a forma que as injustiças ambientais atingem a população. O passado colonial do Brasil e a falta de políticas de reparação de danos e real integração social destinadas aos negros libertos na abolição da escravatura contribuiram e ainda contribuem para que negros sofram de forma mais acentuada à falta de saneamento básico, riscos de deslizamentos de encostas, descarte inadequado de resíduos tóxicos, dentre outros problemas causados pelos danos ambientais em áreas urbanas.


Além disso, outras comunidades também sentem mais intensamente os efeitos do racismo ambiental em seu dia a dia. É o caso de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras, vazanteiros, pequenos agricultores familiares e outras populações tradicionais que lidam constantemente com situações de precariedade e vulnerabilidade ambiental, como a poluição de rios e solo, desmatamento e queimadas criminosas, além da perseguição de grileiros, falta de demarcações territoriais e perda de seus territórios e cultura.


Tragédias como os rompimentos das barragens da Samarco em Mariana - MG (2015) e da Vale em Brumadinho - MG (2019), onde a esmagadora maioria das vítimas é composta por negros, indígenas e pobres, exemplificam de forma bastante clara como o racismo ambiental está intrinsecamente presente e ativo no atual contexto social do Brasil.


Área atingida pelo rompimento da barragem em Mariana - Fonte: Antonio Cruz/Agência Brasil
Resgate de vítimas em Brumadinho - Fonte: Ricardo Stuckert/Agência Câmara de Notícias

  • O que pode ser feito

O primeiro passo para fazer algo a respeito da problemática do racismo ambiental é justamente falar sobre e divulgar o assunto. É extremamente importante que as injustiças não sejam mais invisibilizadas, para que as vítimas de tais efeitos possam ter protagonismo, espaço e voz na reivindicação de seus direitos.


Cobrar atitudes concretas de autoridades, grandes latifundiários e gigantes da área industrial e empresarial é também imprescindível no combate ao racismo ambiental. O acesso de representantes das comunidades atingidas às posições de decisão sobre o assunto, a elaboração leis e políticas públicas mais igualitárias voltadas à questões ecológicas e sociais, a adoção de protocolos relacionados a sustentabilidade, o financiamento de projetos e organizações ligados ao tema e, principalmente, um maior rigor no cumprimento das leis vigentes são algumas medidas preventivas que podem servir como importantes instrumentos práticos na luta contra as desigualdades raciais no âmbito ambiental.


Mais do que tudo, é necessário que a sociedade num geral desenvolva sensibilidade, consciência e senso crítico a respeito do tema. O racismo ambiental é causado pelas inúmeras violências e privações de direitos infligidas às minorias raciais ao longo da história, mas também é agente direto na ampliação e manutenção desse sistema cruel, e só poderá ser realmente exterminado quando deixar de ser visto como uma problema apenas de quem convive diariamente com seus impactos, mas sim como uma preocupação de todos.


Fonte: Apib

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REFERÊNCIAS:




ECYCLE. O que é racismo ambiental e como surgiu o conceito. [S. l.], 2021. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/racismo-ambiental/. Acesso em: 19 de maio de 2023.


FUENTES, Patrick. Racismo ambiental é uma realidade que atinge populações vulnerabilizadas. Jornal da USP no Ar 1ª edição, 2021. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/racismo-ambiental-e-uma-realidade-que-atinge-populacoes-vulnerabilizada. Acesso em: 19 de maio de 2023.


SANTOS, Teresa. Racismo ambiental: o que é isso?. Invivo - Museu da Vida Fiocruz, 2022. Disponível em: https://www.invivo.fiocruz.br/sustentabilidade/racismo-ambiental/. Acesso em: 19 de maio de 2023.


CONECTAS DIREITOS HUMANOS. Entrevista: Como o racismo ambiental afeta a vida das pessoas negras e indígenas. Conectas Direitos Humanos, 2021. Disponível em: https://www.conectas.org/noticias/entrevista-como-o-racismo-ambiental-afeta-a-vida-das-pessoas-negras-e-indigenas/. Acesso em: 22 de maio de 2023.


FERNANDES, Fernanda. O que é racismo ambiental e por que falar sobre isso na escola. MultiRio, 2021. Disponível em: https://www.multirio.rj.gov.br/index.php/reportagens/17388-o-que-%C3%A9-racismo-ambiental-e-por-que-falar-sobre-isso-na-escola . Acesso em: 22 de maio de 2023.


LUSTOSA, TACIANA SANTOS. O que é racismo ambiental e por que falar sobre isso na escola. Justiça Ambiental. 2021. Disponível em: https://www.multirio.rj.gov.br/index.php/reportagens/17388-o-que-%C3%A9-racismo-ambiental-e-por-que-falar-sobre-isso-na-escola. Acesso em: 22 maio 2023.


REDAÇÃO PENSAMENTO VERDE. Racismo ambiental: você sabe o que é?. Pensamento Verde, 2022. Disponível em: https://www.justicaambiental.com.br/Historia. Acesso em: 22 de maio de 2023.


PACHECO, Tania. Racismo Ambiental: o que eu tenho a ver com isso?. Combate Racismo Ambiental, 2020. Disponível em: https://racismoambiental.net.br/textos-e-artigos/racismo-ambiental-o-que-eu-tenho-a-ver-com-isso/. Acesso em: 22 de maio de 2023.





 


Sobre a autora: Thamara Eduarda Mineiro - Graduanda em Ciências Biológicas/Bacharelado na UFU, apaixonada por natureza, música e animes




 

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