A associação entre tubarões e predadores de humanos é uma ideia amplamente errônea e perpetuada por décadas, especialmente por filmes, mídias sensacionalistas e desinformação. Essa percepção equivocada tem consequências tanto para os tubarões quanto para a conservação dos oceanos. Apesar da imagem de "caçadores de humanos" projetada por obras culturais como o filme "Tubarão" (Jaws), de 1975, os ataques de tubarões a humanos são raros, e a maioria das espécies não representa perigo.
De acordo com o International Shark Attack File (ISAF), a probabilidade de uma pessoa ser atacada por um tubarão é extremamente baixa. Em 2023, foram registrados apenas 57 ataques de tubarão não provocados em todo o mundo. Para efeitos de comparação, atividades diárias, como acidentes de carro, quedas e até raios, representam um risco muito maior. Grande parte dos ataques ocorrem por erro de identificação, quando o tubarão confunde humanos com presas naturais, como focas ou peixes.
Segundo George H. Burgess, ex-diretor do ISAF, "os ataques de tubarão são eventos raros e muitas vezes ocorrem em áreas específicas onde a interação entre humanos e tubarões é mais frequente, como na Flórida ou na Austrália." A vasta maioria das espécies de tubarões, no entanto, são inofensivas aos humanos, desempenhando papéis vitais nos ecossistemas marinhos.
A imagem negativa dos tubarões tem contribuído para a aceitação pública da pesca predatória e da destruição dos habitats desses animais. Todos os anos, milhões de tubarões são mortos, principalmente para a retirada de suas barbatanas, usadas na culinária asiática, uma prática que resulta em desequilíbrios ecológicos severos. Como predadores de topo, os tubarões ajudam a controlar a população de espécies menores, mantendo o equilíbrio do ecossistema marinho.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) alerta que um terço das espécies de tubarões está ameaçado de extinção. Isso é impulsionado pela pesca comercial e pela pesca de tubarões em larga escala, com pouca ou nenhuma regulação em muitas partes do mundo.
Além do impacto direto sobre os tubarões, a desinformação disseminada pela mídia contribui para o medo público, afastando a atenção de políticas de conservação e educação ambiental. Como explica o biólogo David Shiffman, especialista em conservação marinha, "a maneira como os tubarões são retratados na mídia frequentemente reforça estereótipos e mitos, em vez de refletir a verdadeira biologia e ecologia desses animais."
A ideia de que tubarões são predadores de humanos não é apenas incorreta, mas também prejudicial à sobrevivência desses animais e à saúde dos ecossistemas oceânicos. Ao entender que os tubarões desempenham um papel essencial na manutenção do equilíbrio dos mares e que os ataques a humanos são raros e, na maioria das vezes, acidentais, podemos adotar uma abordagem mais equilibrada e justa para sua conservação.
Referências:
International Shark Attack File (ISAF): Relatórios anuais sobre ataques de tubarão podem ser acessados diretamente no site do Florida Museum of Natural History: https://www.floridamuseum.ufl.edu/shark-attacks
Burgess, G. H., "Shark Attacks: Myths vs. Reality," Florida Museum of Natural History: Informações sobre mitos e realidades dos ataques de tubarão também estão disponíveis no site do Florida Museum: https://www.floridamuseum.ufl.edu/shark-attacks/
Shiffman, D., "How Media Portrayal of Sharks Harms Conservation Efforts," Scientific American, 2018: Este artigo do biólogo David Shiffman foi publicado na Scientific American e pode ser encontrado em: https://www.scientificamerican.com/article/how-media-portrayal-of-sharks-harms-conservation-efforts/
Sobre o autor: Jason Conti Forastieri, graduando de Ciências Biológicas/Licenciatura - UFU. Apaixonado por arte, entomologia, micologia e botânica.
Contato: jasonconti.minasbio@gmail.com
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